Categoria: Artigos
Data: 13/09/2023
Estamos melhorando ou piorando?

Ultimamente, cada vez mais tem me vindo à mente a pergunta que dá título a essa Palavra do Chanceler. No início da pandemia, quando fui inquirido sobre o que eu esperava que acontecesse quando tudo aquilo passasse, eu respondi que mais do que eu esperava, o que previa que aconteceria é que para melhor ou para pior, em muitos aspectos o ser humano nunca mais seria o mesmo. 

Por óbvio, o meu desejo e compromisso é primeiramente com o meu próprio amadurecimento pessoal como ser humano e como cidadão, assim também com o investimento pessoal nas vidas de outros para apoiá-los na direção desse mesmo propósito de desenvolvimento individual. Ao mesmo tempo, que melhoramos juntos e mutuamente, não tenho dúvidas de que nada muda ao redor de qualquer pessoa que não comece, ou pelo menos, passe primeiramente por ela mesma. 

Os processos socio políticos, a meu ver, são catalisadores e vetores de crescimento coletivo, a partir de um ou de poucos indivíduos, que chegam à consciência da imperiosa necessidade de mudar para melhor, porque aparentemente não precisamos de muito empenho para continuar simplesmente piorando como indivíduos e coletividade. Metaforicamente, somos entrópicos por tendência ao erro cada vez maior e mais devastador, até que certa ordem superior intervenha nessa aleatoriedade a caminho do caos.

Por isso, a pandemia e seus desdobramentos, não apenas em termos de saúde pública e políticas públicas em geral, destilou o que havia de pior e de melhor em cada um, em cada organização e na sociedade global. Vimos de tudo. Mais do mesmo pior que outras gerações já tinham visto em outros cenários de guerras, fomes, catástrofes etc.

O rescaldo de tudo isso é que, lições aprendidas ou não, todos têm tido a condição e o potencial de mudar, mesmo que em intensidades e oportunidades não simétricas necessariamente. Em última instância, está aí, entre o teclado e a cadeira, o problema e a solução para quase tudo que nos aflige, inclusive com o poder de atingir todo o horizonte que se vislumbra à nossa frente, seja para o bem, seja para o mal.

Estamos melhorando, sim, em muitos aspectos, e a tecnologia, os avanços de produção e de desenvolvimento em muitas áreas, além de certas sincronias de processos históricos têm aplainado muitos obstáculos de outrora. Por outro lado, naquilo que é o fator diferenciador de humanização, há tanta coisa a se construir, pois na medida em que consciências vão sendo despertadas, o abismo parece mais profundo e aparentemente estamos a enxugar gelo. 

Para fica no inquestionável, quanto mais se fala em combate à miséria, mas ela se transmuta em multiformes manifestações, que vão além da falta de feijão no prato. Quanto mais se tenta humanizar processos em organizações e sociedades, o egoísmo, a ambição, a vaidade e a soberba humana recrudescem como zumbis, que teimam em mostrar o seu domínio no coração e atitudes das pessoas. A lista seria longa...

Aparentemente, dançamos na vida uma valsa maldita, onde um movimento pendular, e algumas vezes tão errático como o pai atrapalhado do baile de debutantes (ainda existe isso?!) acaba por não fazer ninguém sair do lugar da periferia do salão, e encontrar um centro equilibrado entre competências, habilidades e atitudes, especialmente nos relacionamentos humanos. Pisamos no pé do outro e saímos da harmonia do compasso da música da boa convivência. 

É mania de psicólogo, que sou, junto com a obsessão de cristão, que também sou, insistir em entender que tudo começa ou termina, bem ou mal, nos relacionamentos, mais do que em qualquer outra camada da existência, se é que existam outras que não sejam, em primeira ou última instância, essencialmente relacionais.

Desses relacionamentos, há um mais estruturante do que a própria coluna vertebral de cada um de nós, e que nos remete à origem de quem somos, para além de mamíferos primatas, gregários e políticos por natureza, sobrevivência e vocação. 

Estou falando de fazer-se aquelas perguntas tão comuns em momentos de transição da infância para a adolescência, ou em épocas de grandes crises, quando outros alicerces da vida parecem balançar. 

De onde vim (ou melhor, de quem eu vim?), quem eu sou (em outras palavras, quem eu fui criado para ser?) e para onde eu vou (especialmente, qual é o propósito da minha existência?)

No meu desejo de ser melhor e fazer melhor, tenho me deparado com minhas limitações e tendências de me enfiar em vórtices que eu mesmo crio. E como todos nós sabemos, ninguém consegue ‘salvar’ nada, nem ninguém, se está se afogando em seu próprio desespero existencial, ou algum outro comportamento errático.

Há 42 anos – muito mais do que a metade dos meus 58 anos – tenho recebido muita ajuda imerecida e poderosa ao buscar no Criador, meu e de todos nós, respostas e força para viver. Ele estava sempre lá e disponível, mas em dado dia e ocasião, Ele se fez conhecido. Sei que corro o risco de parecer religiosamente piegas e ser alvo fácil de comentários já conhecidos do tipo “Mas, a religião só atrasou e escravizou a humanidade?” etc. 

De fato, em muitos casos e épocas, religião, sim, manifestou o pior dos religiosos. Mas, não é de religião per se que falo. É de “encontrar o eixo” de viver e ser melhor, para chegar ao fim da jornada exatamente como foi proposto por quem nos colocou na corrida. Que cheguemos cansados de tentar fazer o melhor, ao invés de desistir no meio dessa maratona, por achar que não vale a pena tentar. 

Com carinho,
Rev. Dr. Robinson Grangeiro Monteiro
Chanceler do Mackenzie

Autor: Mackenzie   |   Visualizações: 256 pessoas
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